25 de março de 2020

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Não se faz copa com hospitais

É isso que temos a dizer. Antes de mais nada é preciso que todos nós tenhamos a plena compreensão do que estamos vivendo. A história do mundo é rasgada de tempos em tempos por um movimento pandêmico.
Optei por não ler filósofos neste momento, não me senti a vontade (neste texto) em teorizar sobre um vírus (cuja formação é mais simples que uma molécula) produzindo nele isomorfismo ou múltiplas teorias sociológicas. Se tem algo que concordo com Lula nesta hora é sua frase: “primeiro vamos salvar as vidas depois a economia”, que aponta ser a principio a postura de Mandetta, e WW sobre essa situação. Preferi me ater de leve a dados duros, e ao campo que importa, a saúde coletiva e o urbanismo.
Talvez, desde a gripe espanhola não tenhamos vivido algo deste nível. Por sorte agora, temos mais sincronicidade de informações. Vivemos o fruto do desleixo, nos últimos 100 anos não construímos soluções para resolver a equidade social, ao contrário, utilizamos toda a pauta gerada nas pós-pandemias para emplacar modelos de segregação urbana.
Porém, se nestes anos não fizemos, em anos recentes também nada foi resolvido. Hoje estamos aplaudindo nomes espúrios da política pois vivemos um combate transversal, a luta entre a ciencia e o obscurantismo, entre os que compreenderam que tem que ouvir a voz da OMS, da FIOCRUZ, dos PESQUISADORES SEM BOLSA no lugar da insanidade de um energumeno que por azar do destino está na presidência. Porém falamos de gente hoje que até ontem estava batendo palmas com este presidente, e que até ontem estava pouco se lixando para resolver o problema de segregação. Se hoje há foco de alguns destes, é porque vírus não pensa, não escolhe por etnia, gênero, classe, o vírus voa e chega lá tanto em mim quanto nos que menos tem e até neles varre do morador de rua ao dono do Santander. Coitados dos que tentarem se capitalizar politicamente com isso, coitados dos que não enxergarem a necessidade humanitária que estamos vivendo.
Se há alguém que tem lutado com valor esta luta no Brasil é o SUS. Sempre escorraçado pela opinião pública (leia todas as mídias) e sempre sucateado por todos estes governos. 100 anos amigos, uns quase 500 que não temos saneamento direito, e nos últimos anos continuamos a míngua. Vivemos uma década de luxo, ao que parecia, tivemos Copa do Mundo, Olimpíadas mil investimentos eles diziam. Fizemos teleféricos e não levamos água e esgoto, hoje não temos nem teleférico e nem água e esgoto, hoje temos roda gigante, mas provavelmente é porque não se faz Roda gigante com hospitais.
Muitos tentam entender como os de hoje entraram onde entraram, mas a resposta está em todos os de trás. Em um dado momento não era simples de entender como aqueles que juraram fazer por nós, no Rio de Janeiro pelo menos, escolheram Copa do Mundo ao invés de hospitais. Assim como o teleférico, não temos mais aquele velho e belo Maracanã do povo e nem hospitais, só roda gigante.
No país onde roda gigante é prioridade, quem está fazendo a roda de verdade girar para enfrentar o COVID-19 é o SUS e toda a sua base de profissionais atuantes!
Ao menos fico feliz que tenhamos pesquisadores sem bolsa, médicos e enfermeiros com salários defasados, e inúmeros profissionais que antes de mais nada tem humanidade. Pois são eles que estão pautando os acertos que podem nos salvar. São eles que estão dando os instrumentos políticos para os políticos tradicionais tentarem resolver no desespero. O SUS é robusto para enfrentar a pandemia! isso é frase vinda do próprio governo, e tem verdade nesta frase. Verdade que o grande lobby da saúde privada não quer e nunca quis que fosse ouvida.
WW, Maias, Dórias, Mandettas e cia estão sendo coerentes em não se entregar ao obscurantismo tacanho do presidente, mas serão pequenos ao tentar capturar politicamente. O preço do sucateamento do SUS também passa pela conta deles e infelizmente (para nós) este preço está sendo cobrado agora e tudo indica que será alto.