O urbano contemporâneo, resultante histórico de um grande
processo de industrialização e constantes mudanças nas forças de mercado, parece ter consolidado uma lógica própria de
avanços de seu tecido. Como bem observou Lefebvre, podemos dizer que a cidade se
transforma em uma não cidade. Falamos aqui de um tecido urbano que cresce em função
deste novo modo de produção que se abre com o processo industrial.
A hegemonia de um tipo de espaço que se desenvolve a partir da
instalação fabril busca em primeiro lugar estar próxima das fontes de
recursos naturais de sua produção e em segundo lugar [necessitam de] (ter) um
caminho ágil de escoamento de sua produção. Falamos aqui de um tipo urbano que
começa a privilegiar a velocidade e o movimento em detrimento do encontro cotidiano e das
pausas.
Ferrovias, grandes rodovias, portos, aeroportos são a menina dos olhos na relação entre os arquitetos e urbanistas e engenheiros e as estruturas de poder. Curiosamente, o mundo periférico, em uma tentativa de alcançar tardiamente este processo de desenvolvimento do capital, muitas das vezes optam por construir suas cidades favorecendo esta logística, na esperança de que as redes do capital se instalem em seus territórios.
O capital produtivo que se desterritorializa na sua produção, busca territórios de extração de sua matéria prima, aquíferos como no caso da América Latina, Petróleo como no caso do chamado Oriente Médio, metais e pedras de mineração como no caso da África Oeste.
Ferrovias, grandes rodovias, portos, aeroportos são a menina dos olhos na relação entre os arquitetos e urbanistas e engenheiros e as estruturas de poder. Curiosamente, o mundo periférico, em uma tentativa de alcançar tardiamente este processo de desenvolvimento do capital, muitas das vezes optam por construir suas cidades favorecendo esta logística, na esperança de que as redes do capital se instalem em seus territórios.
O capital produtivo que se desterritorializa na sua produção, busca territórios de extração de sua matéria prima, aquíferos como no caso da América Latina, Petróleo como no caso do chamado Oriente Médio, metais e pedras de mineração como no caso da África Oeste.
Quando os avanços e a inovação dos
modos de produção eclodem no modo toyotista, a logística se fortalece ainda mais como conceito fundamental para o funcionamento do sistema. Não precisamos mais de um
centro, mas produzimos em redes que se conectam pelas teias formadas por este
processo inicial.
O extrativismo que formou a riqueza de alguns dos reinos e
nações de poder subjugara material e simbolicamente povos conquistados
(colonizados). É material o interesse da escravidão de povos do continente
africanos que tinham perícia na extração de minérios e lida com a ferragem para
levá-los a américa latina (lembramos que o Ogum de hoje é ferreiro e forjador),
é simbólico a construção do racismo ao apagar a potência material destes que
eram trazidos a força e decretá-los como um ser humano de menor estirpe diante
da branquitude europeia. Lembremos que todos os processos de escravidão que
existiram antes deste momento compreendiam o subjugo entre povos sem a
distinção do fenótipo.
A construção simbólica da sociedade urbana também ampara
questões como o exótico, destinado a todos aqueles que não representavam o
padrão (neste momento europeu, em um momento futuro inclui-se o Norte Americano).
É este subjugo histórico e cultural que leva a indústria do miojo a adentrar em
países africanos como um alimento elitizado e que leva os mesmos a trocar de
seus pratos o arroz por este.
O sistema atual de produção de riqueza alcança nos dias de
hoje um novo patamar através do modelo de financeirização, cujos fluxos se tornam
infinitamente mais velozes que os anteriores. De certa forma todos estes modos
de produção coexistem no globo e se entrelaçam. Uma das consequências é o
enfraquecimento de um território vivido e público, a vida adentra em espaços
controlados, como sugere Koolhaas em um de seus famosos ensaios. Esse novo tipo de espaço nos isola de inúmeros bens comuns como o sol, os mananciais, o tempo de contemplação e dos
espaços construídos que permitem as fugas e encontros do acaso e do
imponderável. Também é este tipo de espaço que invisibiliza a gama de cidadãos que fazem
eles funcionarem. Projetamos corredores técnicos por onde passam os
trabalhadores da limpeza, pavimentos técnicos por onde passam os trabalhadores
da manutenção ou elevadores de serviço.
Para que o novo modo de produção funcione e se mantenha ele cria um novo tipo de periférico, lançando a própria sorte aqueles que não
estão incluídos. Assim que uma classe média Síria se transforma em um não
cidadão alojado em algum acampamento provisório na Jordânia ou um venezuelano
em um acampamento em Roraima. O capital que se espalha pelo globo com o
toyotismo e que hoje transforma em puro fluxo diante da financeirização,
territorializa os periféricos que viviam em espaços de grande matéria prima
para sua produção. O imigrante se transmuta no outro, aquele que não queremos
nas nossas cidades, capitais da beleza, das normas e da cultura.
O exótico é cool quando o outro permanece no próprio
território, independente das mazelas que o poder que hegemoniza o globo cause
neste território. Quando o outro, no desespero de sobreviver a estas mazelas,
tenta fugir para os territórios que se sustentam pelas mazelas criadas ele se
torna um problema: O imigrante.
Qual a solução que se apresenta? Estrategicamente a
construção de territórios de exceção, verdadeiros campos de acumulação de
pessoas, o imigrante, o exótico, o outro se torna o refugiado. Uma rápida
percepção do crescimento do campo de Za’atari já demonstra esta nova cidade que
escapa as nossas mãos, uma singular forma de exploração do corpo humano na era
da financeirização. Há uma tênue linha de paralelos entre a Senzala, os Gulags,
os Campos Hitleristas, Guantanamo e Za’atari, a linha onde o outro é subjugado
para que os poderes hegemônicos se mantenham hegemônicos.
Porém, há também novas formas de resistência tática
que nascem junto a este processo: praça Tahrir, Occupy, no brasil temos as ruas
em 2013, em 2018 o repúdio ao assassinato de Marielle, a greve dos
caminhoneiros que parou o país, entre muitas outras manifestações. São
explosões táticas que surgem como um contra-poder e que em pouco tempo são
massacradas pelos poderes hegemônicos. Estes por sua vez, se tornam cada vez
mais totalitários na busca de sua manutenção. Nos importa ponderar que o palco
destas lutas em muitos casos é o urbano, apesar de termos lutas nos territórios
em seus matizes.