10 de maio de 2021

, ,

CIEPs o sonho de um Brasil possível

Em 08 de maio de 1985 era inaugurado na cidade o primeiro CIEP. Situado na Rua do Catete, um dos endereços políticos mais importantes do Brasil, o projeto arquitetônico-pedagógico, parceria de Brizola e Darcy, com traços de Niemeyer.

A arquitetura marcante de Niemeyer e o conceito de educação integral produzido por Darcy, que garantia a criança conhecimento, esporte, saúde e socialização, e garantia a comunidade um espaço de lazer e cultura, abriu a possibilidade real de fazermos um Brasil diferente. Como sonhava Brizola: “Dos CIEPs hão de sair aqueles homens e mulheres que irão fazer pelo povo brasileiro e pelo Brasil tudo aquilo que nós não conseguimos ou não tivemos coragem de fazer”.

Hoje vivemos o legado do desmonte. Dia a dia, quando estamos diante deste país onde escola se tornou repositório de crianças, e o projeto pedagógico que sobrou para o pobre é a violência cotidiana, penso quanto tudo poderia estar diferente após estes 35 anos de formação pelas bases. A saída pela educação é a melhor das saídas, porém ela exige um compromisso de Estado que perdure por no mínimo 14 anos, um ciclo inteiro de formação geracional. Se no Brasil de outrora, a educação de base ainda era pra poucos, hoje, apesar de universal, segue o mesmo padrão, haja vista o desmonte.

Desmonte este que é projeto, como percebemos na tragédia que foi imposta aos CIEPs tão logo o Brizola perdeu a eleição, e o governo seguinte desmantelou o legado. Pois no Brasil é assim, a política não é produzida para ser estruturante, ela acaba por ser arma e subterfúgio para apossamentos de grupos de afinidade dos vencedores. Por conta disso não é incomum vermos mudanças dos grupos econômicos, das empresas, dos grupos de poder cultural, conforme vemos a mudança de um governante x ou y. O que tem que ficar claro é isso, em que a mudança dos nomes de poder influencia na mudança estrutural do país?

Penso o tamanho da destruição que foi a perda do legado do Brizola. O Brizolão é uma das poucas arquiteturas icônicas que encontramos em diversos cantos do estado do Rio. Quando falamos de 1985, falamos de uma geração que estaria hoje entre seus 40 ou 50 anos para menos, sendo formadas com qualidade. Falamos aqui de um Brasil que tentou uma vez na vida, organizar-se a partir do conhecimento.

O Rio de Janeiro vive hoje a exaustão diante da violência e o deserto de não ver mais saída para si. A saída mais concreta para tal, passará pela capacidade de darmos, no mínimo, o binômio educação e saúde de forma universal e com qualidade. Com isso, garantimos as mudanças de metas, mudanças de objetivos e perspectivas, mudança de cultura do povo. Somos um país que produz João Cabral de Melo Neto mas não consegue ler João Cabral porque livros são caros e segundo o atual presidente devem ser sobretaxados para se tornarem ainda mais caros.

O projeto de educação que temos, onde escolas de elite como as tradicionais escolas confessionais do Rio, formarão as lideranças sociais e econômicas ano a ano, escolas para as classes médias darão a formação mediana e as escolas públicas seguirão como repositório de seres humanos, mantém a crise da cidade em que estamos. Os Brizolões incomodaram esse modelo acima, propuseram a universalização da educação dos pobres a partir do público, a partir do sentido de que educação envolve mais do que conteúdo curricular, envolve construção integral de cidadania. O Brizolão incomodou quem iria perder espaço no controle do conhecimento, incomodou quem iria perder dinheiro ao transformar educação em mercadoria e incomodou quem iria perder a capacidade de manipular politicamente o povo pobre.

Infelizmente amigos é isso, um Rio de Janeiro diferente seria possível e viveríamos hoje o resultado de ao menos 3 gerações de cidadãos amplamente formados nos Brizolões. Não dá pra saber ao certo como seria este Rio, esta inclusive era a grandeza da visão: deixar que a geração formada no Brizolão construísse estes rumos da história. Ainda que não dê pra saber, uma coisa é certa, seria melhor, bem melhor do que estarmos a beira do poço.