15 de agosto de 2021

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O RAPTO COGNITIVO DA ARQUITETURA AMEAÇA O GUSTAVO CAPANEMA

 A construção de sentido das cidades se dá por experiências materiais e cognitivas que caminham lado a lado conforme define-se o projeto e as disputas sociais inseridas nelas. Há muito que o projeto de bem público no Brasil não é prioritário, e desde sua formação que o projeto de cidade para o Rio é segregado. Por mais belo e simpático que eu seja do conceito de costura, de cerzimento, a resistência não dá conta de resolver o problema real da cidade.

Hoje nos deparamos com mais um possível crime ao patrimônio. Uma lista de inúmeros bens públicos da União (mais de dois mil) que o atual governo pretende simplesmente desfazer, leiloando ao mercado privado. O coração deste debate se debruçou sobre o edifício Gustavo Capanema. Joia da arquitetura moderna mundial, o prédio em si é uma das aulas mais puras do que representava as premissas do modernismo. 


Importa-nos dizer porém que ele não está só o que coabita naquela esplanada é um conjunto de poderes. O Capanema convive com seus vizinhos de poder entre outras edificações que compõem um determinado tempo, uma expressão de sociedade e de povo. Cada edificação a seu modo, com seus estilos, elementos e espaços guarda minutos, dias, anos de história. De nada adianta salvar o MEC e perder o Ministério do Trabalho ou da Fazenda por exemplo.


Este é o Rio de Janeiro, a cidade que desmontou sua colina de fundação, o Morro do Castelo, símbolo de um Brasil Colônia e um Brasil Império, e em seu lugar construiu a Esplanada dos Ministérios de um Brasil Novo. Este é o modelo de urbanismo desta cidade. Assim foi a abertura da Presidente Vargas, assim foi o Porto Maravilha, assim foram as remoções de favelas, algumas partes de PACs e por aí vai. A arquitetura carioca (talvez brasileira) é uma constante de demolir para construir, um eterno retorno mal interpretado, onde no fim o que importa é a terra, o lote. Sobre toda operação há uma bela narrativa para estampar o sucesso nas revistas especializadas: o retrofit, o reinventar, o reviver, -façamos o novo. 


Esta cultura está impregnada no modus operandi dos gestores públicos e de boa parte dos profissionais arquitetos que projetam e constroem esta cidade. Onde nós lemos história, memória e pertencimento, outrem leem uma relação de preço/m² de solo.  E nesta, somos educados e por tabela “educamos” a sociedade de que arquitetura é a tábula rasa (ironicamente pregada pelo modernismo) passar a régua, limpar o terreno e subir do zero. Nesta leva, o senso comum acha bonito um condomínio recém inaugurado cheio de falsas colunas gregas mas trata como velharia um casario art-decó. Este é o rapto cognitivo que vivemos no dia a dia de nossas vidas.  E se há algo que explica muito bem o processo é o poema de Marina Colassanti que colo aqui:


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.

E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.

E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.

E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz.

E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.


A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.

A tomar café correndo porque está atrasado.

A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.

A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.

A sair do trabalho porque já é noite.

A cochilar no ônibus porque está cansado.

A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.


A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.

E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.

E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.


A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.

A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.

A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.


A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.

E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa.

E a fazer filas para pagar.

E a pagar mais do que as coisas valem.

E a saber que cada vez pagará mais.

E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.


A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.

A abrir as revistas e a ver anúncios.

A ligar a televisão e a ver comerciais.

A ir ao cinema e engolir publicidade.

A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.


A gente se acostuma à poluição.

As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.

À luz artificial de ligeiro tremor.

Ao choque que os olhos levam na luz natural.

Às bactérias da água potável.

À contaminação da água do mar.

À lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.


A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.

Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.

Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.

E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.


A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto acostumar, se perde de si mesma.


É na singeleza do comum cotidiano que o rapto acontece, e é na segregação que ele tem seu melhor território de experimentação e expansão. O carioca se acostumou a ver seu paisagismo e seu patrimônio histórico se deteriorarem até o último suspiro, que pode vir por um incêndio, ou uma picareta demolidora. 


Nos acostumamos a ver bairros inteiros morrerem administrativamente e ver seus moradores sendo tratados como de segunda categoria, assim como sua cidade construída. Nos acostumamos a perder o direito aos espaços livres, o direito da memória. Nos acostumamos a ver patrimônios históricos serem demolidos por motivo torpe. E o pior, nos acostumamos a não nos importar tanto, quando estas operações são experimentadas nos territórios mais periféricos, como os subúrbios ou as favelas, ou as favelas dos subúrbios. 


Nos acostumamos a aceitar que certas práticas podem acontecer no lado invisibilizado da cidade. Um BRT que não passa mas cuja obra desmantelou o casario de Campinho e toda franja de casas e lojas de bairros inteiros, acabou com praças e parques. Os Cinemas de rua tombados que, com sorte viram igrejas, ou são destombados para virar só fachada de loja ou muro de condomínio (caso Cine Guaraci e Cine Olaria), parques e praças viram quintal pra vereador implementar qualquer equipamento de qualidade duvidosa. 


Quem não lembra também do Hospital do IASERJ sendo esvaziado às pressas pra ser demolido e virar só mais um terreno? pacientes morreram neste processo. Quem não lembra da Aldeia Marakanã ser ameaçada com armas sônicas em 2009? Enquanto isso, o próprio Maracanã, mesmo tombado, foi demolido! São tantos os patrimônios dilapidados em troca de qualquer valor.


Esta é a cara da nossa cidade, que já perdeu e muito o seu limite para o mundo paralelo. É nela que nos acostumamos a viver. Não é inocente também que o edifício do MEC se torne símbolo de ataque do governo, é ataque a um projeto de Brasil de Getúlio que um dia sonhou ser grande, que sonhou ver a educação como centro da mudança junto com Brizola ou ver a cultura como a potencializadora de um Brasil País de Todos com o Lula. Seu abandono é fruto de um uso que ruiu pelo interesse próprio do capital que não se importa com nada além do valor do solo e da capacidade de revenda. E pensar que se lá atrás tivéssemos encarado enquanto categoria de arquitetos em massa e sociedade a defesa firme dos casarios de Campinho, do parque Ary Barroso, dos Cinemas de Rua, da Fazenda Columbandê, Aldeia Marakanã, fossemos críticos a certos mega projetos, a certas operações urbanas em nossa formação e na formação dos nossos, hoje a história da cidade poderia ser diferente.


Há uma disputa de poder em torno deste projeto, mas nesta disputa a arquitetura segue um caminho fantástico de contradição e ambiguidade. Foram anos em que o olhar hegemônico da arquitetura tratou (e segue tratando) de apoiar os projetos dos inúmeros poderes vigentes sem fazer o devido filtro crítico. Ficamos felizes com um Museu de Arte do Rio construído no lugar de um hospital, felizes com qualquer projeto espetacular em aço e passamos pano no desaparecimento de vigas de aço corten de 40m de comprimento.


Ficamos felizes com os museus do amanhã às custas de inúmeros pobres que seguem sem acesso a lazer, cultura, habitação de qualidade ou sequer escritura de seus pequenos terrenos suburbanos que, segundo a proposta do novo plano diretor, poderão ser remembrados por construtoras para gerar maior interesse especulativo/econômico. 


Mas é isso, nos acostumamos, e enquanto nos acostumávamos e negligenciávamos, o rapto cognitivo aconteceu e o campo da arquitetura não viu. Não vimos, pois somos educados que arquitetura é peça de luxo, só a peça de luxo se torna importante, mas um dia até o rapto chega nela e isso nos acorda. Anos e anos desvalorizando a importância dos marcos arquitetônicos existentes de 80% do território desta cidade pesou.


Temos de abraçar o MEC, temos de lutar pelo MEC, mas salvar o MEC sozinho não salvará nada! O que precisamos mesmo é salvar a cidade desta métrica onde o valor de mercado do solo é a centralidade da discussão urbana enquanto o povo tenta com sorte sobreviver a esta loucura de cidade onde o estado foi terceirizado para as milícias e a vida foi mercantilizada.


A discussão do MEC é um reflexo e alegoria desta realidade: um bem público de valor incalculável que será precificado e leiloado para o mercado privado junto com outros 2mil bens.






6 de agosto de 2021

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Pilhagem Urbana do Rio

Começo o texto a partir de uma notícia recente. Saiu no diário do Rio matéria comentando sobre o agravamento imobiliário na Barra da Tijuca causado pela mudança da Vivo de sua sede neste bairro para o Porto Maravilha.  Esta matéria, apesar de focal, fala sobre um processo histórico da cidade do Rio, a disputa territorial pela centralidade comercial da cidade.

Os grandes pensamentos imobiliários e interventores que definem esta cidade, a muito tempo que tencionam esta disputa. Temos o Rio com um centro oficial, claramente delimitado e legitimado pelo processo histórico de formação deste país, e a proposta idealizada de construção de um centro novo. E em meio a isso, para o restante da cidade, o De Janeiro, fica o desleixo e esquecimento de tudo que não rebate diretamente nestes espaços.


Mapa turístico do Rio de janeiro


Esta cidade, que já fora um símbolo de esplendor, saiu de capital oficial da nação a capital cultural, a muito que segue sendo vista como um grande canteiro de obras. Não importa pensar a cidade pelas suas vivências, o que importa é criar possibilidades de solo para que meia dúzia possam construir. A partir deste movimento, se precifica toda a vida urbana. Sim, quando se inaugura um imóvel no Leblon cujo preço do metro quadrado é quase o dobro do que se tinha naquele bairro, isso gera uma reação em cadeia, subirão todos os valores de todos os bairros em escala, assim como o custo de vida total. 


A retirada do olhar espacial qualificado do território se torna um estratagema que a curto prazo pode favorecer o lobby da especulação, mas a médio e longo prazo deteriora qualquer boa relação de vivência para os cidadãos. Perdemos a queda de braços entre qualidade urbana x maior lucro viabilizado por potencial construtivo e com ela se vai também as ambiências, os elos de conexão que fazem a cidade ser cidade. 


Os anos de verbas gordas do Rio experimentamos um boom construtivo, Muitos dos terrenos das antigas fábricas foram se transformando em condomínios fechados, uma espécie de “barratijucanização” da vida. Não é difícil perceber, que inúmeros deles foram inseridos sem qualquer cuidado com o entorno, caem nos terrenos como uma ilha, só se preocupando com a porta de entrada e saída. Também não há preocupação de entender que a dinâmica das demandas por moradia na cidade não são respondidas por este elo da especulação imobiliária. Hoje é comum vermos muitos destes condomínios relativamente esvaziados, em bairros que sentem falta de verde, de praças, de calçamentos decentes. 


Rua Degas: Fundos do Norte-Shopping, Fundos da Leroy-Merlyn, porta de condomínio


O que se pensa em urbanismo pelo poder segue a mesma prática do velho sanitarismo, já amplamente criticado pelos sanitaristas contemporâneos mas ainda praticados nas pranchetas dos comerciantes de propriedade e alguns urbanistas desta cidade. A prática de se substituir um espaço embora aparentemente velho porém vivo, por um modelo que é completamente indiferente com a conectividade local. Se a verticalização exacerbada representou um caminho (questionável a meu ver) para Hong Kong cuja costa Norte precisa dar resposta a uma demanda de 26mil habitantes por km², não precisa ser um caminho para nós visto que a densidade do Rio é aproximadamente cinco vezes menor.


Prédios em Hong Kong: foto por Romain Jacquet-Lagreze.


Nosso problema habitacional não está na falta de espaço, mas na super concentração da propriedade que vira moeda de especulação. Não há eficiência da fiscalização pública, instrumentos urbanísticos como o IPTU progressivo ou a fiscalização sobre imóveis sem uso e função social é baixíssimo, seguimos ao relento. Assim, o rico especula o valor de sua riqueza com os terrenos que tem enquanto o pobre constrói no espaço que lhe sobra e o arquiteto desavisado se perde tentando achar a quimera da boa arquitetura, da boa forma, do urban design como salvação. 


Rua Nicarágua, Vista livre da Igreja da Penha, Direito Paisagístico.

Chegamos neste Rio Cidade Maravilhosa, Cidade Olímpica, já foi Rio 450, já foi Capital Mundial da Arquitetura cujo poder não demonstra minimamente o interesse de proporcionar qualidade urbana completa para 80% do seu território onde moram os mais pobres. Assim, nosso lugar segue refém das políticas mais toscas e da degradação de todos os bens construídos que nos são afetivos e importantes. Ao mesmo tempo que vemos surgir espigões em qualquer terreno vazio e não temos sequer respeitado por parte do poder, o direito de assistência técnica para construirmos no espaço que nos sobra.


Condomínio da Cury sendo construído na beira da Linha Amarela (via expressa sem comércio local, sem sinalização, sem apoio para pedestre).


29 de julho de 2021

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“As nossas riquezas, as nossas carnes, as vidas, tudo. Vocês venderam tudo!”


É interessante este ponto de vista do sujeito indeterminado no lugar em que rotineiramente damos a notícia apontando o incêndio como sujeito. Pois bem, não poderíamos nunca imaginar que hoje, dia 29 de julho de 2021 estaríamos novamente debatendo o mesmo elemento e apontando o que denunciamos com a notícia: Incêndio atinge depósito da Cinemateca Nacional. 

Originalmente matadouro, o patrimônio se manteve e passou a abrigar a cinemateca brasileira após interessante projeto arquitetônico de Nelson Dupré. Este não é o primeiro incêndio que assola a cinemateca, que já viveu dias de dor em 2016. Este infelizmente é o retrato comum de um país que vê seus espaços de preservação da história sendo lançados ao relento. 

Uma das primeiras formas de destruição dos mesmos é a degradação simbólica. Vivemos uma Terra onde o desmonte cognitivo das nossas memórias é constante. Somos massacrados pelos mais diversos artifícios para tal, desde coisas como: estudar é chato, até o discurso de que o novo sempre é melhor, vivemos rodeados por um cotidiano que nos consome deixando-nos pouco tempo para buscar algo fora da cartilha. A vida passa a ser um dia a dia de embebedar-se com séries e novelas, consumir redes sociais, discutir notas sensacionalistas de jornais. 

A História é só o velho, e os velhos não têm lugar na agenda. Mesmo para a agenda mais progressista, os corpos militantes são os jovens, tudo é inovação. História, sociologia, filosofia são coisas efêmeras que não precisam estar na grade curricular do EAD  do MEC’ Escola feliz onde paga por um curso e o diploma vem de brinde. 

Quem precisa de cinemateca quando se tem a netflix? não duvidaria de ouvir esta frase por aí.

Praticantes tikkertokers se perdem em dancinhas virtuais enquanto o exército paramilitar domina todos os espaços reais em redor dos pobres. Quem vai bater de frente? Quem vai ler nas letras miúdas que nos permitem desmontar a memória, como uma criança dopada de rivotril.

Toda nossa História está sendo desmantelada, negligenciada, e pegando fogo. Os que choraram por Borba Gato e cobraram a cabeça dos que o incendiaram terão coragem de chorar pela Cinemateca e cobrar a cabeça dos que cortaram a verba do Cinema Nacional?  A luta pelos cinemas é uma luta insólita de resistência, seja a cinemateca que arde em chamas, sejam os Cinemas de Rua suburbanos se degradando e levando consigo a nossa história para a beira do esquecimento.

Esse é o país que o atual Estado nos deixou. Um país que nos empurrou pra fome e que se esforça para apagar nossa História e que forma uma elite de bosta que não está nem aí pra esse lugar. 

Perdemos muitas oportunidades nesta vida, dentre a maior delas tivemos anos de governos progressistas que não conseguiram produzir uma mudança cultural mínima neste país. Do fim da ditadura até hoje passaram-se ao menos uns 30 anos, tivemos tempo de construir uma sociedade com base forte, que entende a necessidade da cultura, da história, da educação de base. Paulo Freire passou longe das escolas, infelizmente habita ali na resistência, nas citações teóricas e nas tentativas táticas de alguns professores que ainda acreditam na possibilidade de futuro para as nossas crianças, mas nunca se tornou uma política de Estado. 

Mas é isso, nossa pedagogia é forjada pela violência, o vilipêndio e a fome, ficamos atomizados diante das chamas que corroem nossos cinemas e das maquitas que derrubam nossa arquitetura. 

Comemoramos medalhas que são verdadeiros feitos heróicos por parte de atletas que enfrentaram as mais terríveis dificuldades pois temos um país que já viveu a copa das copas e a olimpíada das olimpíadas e não conseguiu deixar um legado esportivo, mas jorra dinheiro da loteca federal para os caixas já gordos de dirigentes de determinados clubes de futebol. A gente aprendeu a resistir no meio de tudo isso e por dentro de tudo isso. Passamos anos caminhando pelas brechas que nos foram permitidas, mas o mundo não pode ser só isso e resistir apenas não está mais dando resultado.

Este país não pode ser mais refém dos netos e bisnetos das elites cafeeiras que agora são agro pois agro é pop. Que escolhem algumas quadras de cada cidade famosa deste país pra chamar de linda, de maravilhosa, de global city, enquanto 80% das cidades ficarão ao relento, controlada por tiro porrada e bomba. Ficando reféns dos militares às milícias, dos Borba Gatos, dos Deodoros, dos Costa e Silvas e dos Bolsonaros.

Somos todos nós que perdemos hoje neste Brasil 


“As nossas riquezas, as nossas carnes, as vidas, tudo. Vocês venderam tudo!”





27 de julho de 2021

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Breve Reflexão sobre Estética e o Desencontro entre Arquitetura e Sociedade

Um de meus primeiros contatos no campo de estudo da estética, ainda na faculdade de arquitetura, envolveu disciplinas de estudo da forma e expressão gráfica. Em minha formação por sua vez, tais estudos sempre se embasaram em uma visão de mundo greco-romana (uma das visões mães da Belas Artes).

Embora o modernismo, pensamento que estruturou boa parte do início de minha formação, tenha proposto uma ruptura às Belas Artes, sua base filosófica ainda pairava no mesmo ambiente de estudo da forma ideal pela forma real, proporções áureas, uma certa harmonia estética que era ascética e hermética pro todo da sociedade. Esta base seguiu escola a dentro pensando projetos de arquitetura onde a pessoa não estava em um plano claro, e a condição financeira também não. Enquanto isso, o mundo aqui fora, no lugar vivido seguia construindo, a seu modo, com seus referenciais e suas condições de possibilidades. Estudávamos lajes planas enquanto pro povo o luxo era um belo telhado colonial das mansões da Casa Cláudia.

Mas pra não fugir, o principal desencaixe estava lá na base de formação. Pensávamos a vida por um viés da transcendência onde primeiro vem o projeto, emergido pra ser semelhante ao mundo perfeito do campo das ideias. O projeto seguirá seu rumo até que seja dada a obra, sempre icônica pois não cabe a arquitetura ser um simulacro.

Mas a vida real não cabe nesse mundo, ela acontece o tempo inteiro processo atrás de processo. A arquitetura é um acontecimento do espaço, concebido e vivido, e aqui o sentido anterior se desencaixa. Quando retiramos a arquitetura desse campo transcendente e trazemos pra experiência viva, o que estamos propondo é a discussão sobre a estética. Assim, não há mais uma boa e má arquitetura em si mesma, mas caminhos distintos por onde pensamos modos de operar o espaço num dado recorte de tempo. A arquitetura segue o devir, o movimento permanente criativo e transformador.

Esta é uma diferença dinâmica importante quando queremos compreender como os profissionais de arquitetura adentrarão o universo da autoprodução do espaço construído. Precisaremos compreender que o importante na autoprodução não é tanto o fim da obra ou o resultado épico de um projeto, passa-se muito mais pela constante possibilidade de adequação ao momento, ao modo de vida. Um filho que nasce é um quarto que se sobe, um filho que casa é uma laje que vira um novo lar.  

É neste encaixe que o pensar ético e estético da arquitetura pode encontrar o caminho de construção mais democrático de toda a espacialidade. Nós, a humanidade já concebíamos nossa organização espacial antes dos traços gregos, antes da sistematização das sequencias de fibonacci e antes de Ihmotep. Ali no início da formação precisaremos redesenhar a visão de mundo, estarmos abertos a uma leitura transformadora da vida onde a contradição, o caminho de ida e vinda esteja a nossa frente. Precisamos estar sem apego ao caminho moral do saber, a busca da boa forma, do bom olhar, e nos permitir dialogar com os muito olhares que montam e moldam a realidade.  Precisamos aceitar que fibonacci é só uma redução limitada que nos ajuda a compreender a inúmera complexidade das formas da existência.

Se nossa categoria conseguiu sistematizar a troca de saberes que forma o campo técnico-científico através das universidades, nossa espécie organiza via uma longa rede de oralidade as trocas que atuam na autoprodução, daqueles que aprendem desde pequenos com pais, avôs, bisavôs que fizeram desde suas bibocas e palafitas até pontes, aterros, aberturas de túneis e palacetes.  

Vamos nos imbuindo da experiência, e soltando as amarras das buscas icônicas conseguiremos entender, ao explorar ao máximo a contradição e o diálogo entre o técnico científico e o saber do lugar conseguiremos melhorar amplamente a qualidade espacial do mundo em que vivemos. 

A crise do saber técnico da arquitetura diz muito mais sobre a necessidade de ruptura entre os atuais modos de fazer e compreender o que é arquitetura e necessidade de recomposição deste campo com os processos de existência e valores da sociedade atual. 




25 de julho de 2021

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Monumentalidade e Patrimônio: O que o incêndio ao monumento de Borba Gato nos diz.

Não vou alongar muitos argumentos sobre a questão do monumento aqui. Mas vou tirar um texto específico do saber técnico-científico do campo da arquitetura pra comentar a respeito da questão de patrimônio, monumento, preservação.

Partindo do texto: os 9 Nove pontos sobre a monumentalidade escritos por José Luiz sert, Frenand Léger e SIefried Giedion.
Seu primeiro ponto traz:
"Monumentos são marcos que o Homem criou como símbolos dos seus ideais, dos seus desejos, das suas ações. São concebidos para sobreviver ao período que lhes deu origem e constituem uma herança para as gerações futuras. Como tal formam um elo entre o passado e o futuro".
No seu terceiro ponto lembra:
"Qualquer época do passado que tenha desenvolvido uma verdadeira vida cultural tinha o poder e a capacidade para criar estes símbolos".
Então, o que há e comum entre a comoção em torno do ato de incendiar a estátua de Borba Gato e o descaso com o patrimônio material das regiões periféricas deste país?
O simples recorte histórico de uma sociedade que ainda mantém os modelos elitistas de formação deste país como ícones de valor e ideais.
Lembro-me de uma cena marco do Filme Adeus Lenin, quando a estátua de Lenin é retirada e o jovem protagonista vivencia ali o clímax a demarcação simbólica do fim da Alemanha oriental. (vale ver o filme).
Mas saindo do cinema e vindo pra vida. Ao incendiar a estátua, o que parte da população diz é: não compactuamos mais com os ideais que sustentam de pé estes monumentos. Isso é como Moisés descendo do monte com os Dez Mandamentos e vendo o povo adorar o Bezerro de Ouro, ou como quando após a derrubada de Saddam Hussein suas imagens foram postas abaixo.
Defender a preservação de um monumento é defender o que este simboliza e demarca na história. É interessante notar como a literatura de Victor Hugo foi importante para a valorização da Catedral de Notre-Dame.
E este é o ponto, se cortarmos Brasil a dentro veremos inúmeros bens tombados, monumentos, arquiteturas referenciais pra um grupo social, uma região, um povo, literalmente abandonados e degradados ano a ano, como um incêndio homeopático.
Bens históricos de referencia dos povos africanos ou indígenas sofreram anos de perseguição oficial, e ainda hoje sofrem com perseguições das mais diversas. Quantos não são os casos dos terreiros dilacerados?
No Rio um caso marcante deste recorte elitista é o desmantelamento e esquecimento dos cinemas de rua suburbanos. Arquiteturas símbolo de um tempo histórico onde as regiões suburbanas expressavam uma pujança social e econômica, ainda que estes lugares sempre estejam aquém e segregados nos projetos de cidade.
Os cinemas de rua seguem a cartilha da destruição:
O abandono homeopático por parte do poder público como maneira de destruir o valor cultural e simbólico para a própria região. Bairros inteiros perdem o sentido de sua história, ficam reféns de nunca se sentirem realmente importantes.
O recado social é claro:
Borba Gato ainda é uma referência de um modelo ideal para os que choram pelo incêndio, enquanto para estas mesmas pessoas os Cinemas de Rua são só algo que atrapalha a especulação sobre o terreno no qual eles foram construídos.
Este é o tipo de recorte de valor que nos foi dado no país. Não é esta parte do Brasil queira apagar toda a sua história, ela apenas quer seguir mantendo a narrativa da pujança elitista e manter no esquecimento todos os periféricos, favelados, suburbanos, negros, indígenas e por aí vai.
Esse é o retrato de um país que uma parte de suas elites e governantes chora pelo monumento escravagista de Borba Gato, no mesmo dia em que celebramos as Mulheres Negras da América Latina e Caribenha.











27 de junho de 2021

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Desejo de Matar e as contradições do individualismo

Em 1974 estreou o filme Desejo de Matar estrelado por Charles Bronson, esta obra tem um impacto peculiar na cultura da gente. O eixo central fala de um homem comum que após ter sua casa invadida, sua esposa é assassinada e sua filha violentada. Paul Kersey, um arquiteto de ideias liberais com visão de mundo anti-armamentista, se transforma pouco a pouco em um vigilante das ruas. 

filme dá um pontapé numa massa de produções com enredos de valorização da cultura armamentista como ferramenta de proteção do cidadão comum. Apesar disso, não podemos reduzir o enredo deste filme específico a esta propaganda. Desejo de Matar está muito mais próximo de Um Dia de Fúria, filme onde um designer industrial explode seu stress com o modelo de sociedade e se vê emaranhado numa teia de problemas que se desencadeiam e piora quando este se arma, do que de filmes e franquias que se inspiram nesse modelo do homem comum armado resolvendo tudo.

Charles Bronson não é um herói, a única habilidade exímia de seu personagem é saber atirar, mas não é um atleta, não é um estrategista ou nada assim. Mas em que isso tudo nos importa? Simples, somos hoje em 2021 uma geração criada embebida na lógica das narrativas cinematográficas abertas por filmes como este. Uma corruptela do bom Desejo de Matar veio com sua franquia e com inúmeros filmes posteriores cujo personagem principal seguia o mesmo padrão: homem de meia idade armado resolvendo problemas que o Estado não foi capaz de resolver. Essa é a base de uma gama de filmes de Charles Bronson, Chuck Norris, Bruce Willis, Vin Diesel, etc.

Este, que é o eixo central do Desejo de Matar, também tem muito a nos dizer. O filme retrata como um homem comum com repulsa a armas, quando vê sua vida destruída pela incapacidade do Estado toma certas escolhas. O filme retrata de forma peculiar as possibilidades e contradições abertas por uma cultura armamentista e liberal podem gerar a busca pelo vigilantismo e punitivismo. Ver essa leitura nos ajuda a entender nosso dia a dia aqui também. Apesar de o Brasil não ter a mesma relação histórico-cultural que os Estados Unidos tem com o universo das armas de fogo, fomos moldados (inclusive por estes filmes) a normalizar a cultura das armas.

Um padrão em todos os filmes deste tipo, e também um certo padrão do mundo real, é que lidamos com um sistema de segurança ruim, falho, corrupto, — “esta cidade é assim”. Quando as pessoas comuns pensam em segurança o que desejam é proteção, e raramente encontram. O cotidiano de uma visão liberal da vida nos instiga e nos bomba com referências de que devemos fazer por nós mesmos. Nossa vida é um problema nosso apenas, temos que cuidar de nosso interesse individual, primeiro nos ajudemos para depois ajudar ao próximo, se batalhar consegue, somos bombardeados com modelos que centram no indivíduo a saída e no coletivo o problema. O que temos então? a chave certa para defender saídas não estatais para problemas de estado (como a segurança pública, por exemplo).

Este é o ponto que Desejo de Matar já nos apresentava. Qualquer pessoa comum que cresce em uma cultura que valoriza as soluções individuais pode perder sua fé nos sistemas institucionais e tentar uma solução por si. Os sistemas institucionais, por sua vez, limitados para resolver os problemas estruturais que geram a violência urbana, não conseguem dar cabo de resolver o problema da vigilância apresentada no filme sem utilizar de subterfúgios. A polícia não o prende para não criar um mártir e abrir o descontrole social, antes o incentiva a mudar de cidade. Nota-se também que, se em um primeiro ciclo de ações do vigilante, os criminosos atuam com armas brancas, já no fim, o vigilante é pego por criminosos que usam também armas de fogo.

O filme expõe um pouco do como funciona esse ciclo de violência urbana. Se num dado momento, a criminalidade parece reduzir porque o vigilantismo mudou a postura do banditismo, o fim do filme mostra que este ciclo permanecerá com uma qualificação do banditismo para reagir ao processo social. Quanto à proposta institucional para resolver o problema, o que se apresenta pelo filme é o famoso: jogar para debaixo do tapete o problema, incentivando o grande escritório onde o arquiteto trabalha a transferi-lo para outra cidade. O problema da violência não se resolve em momento nenhum, isso fica claro, assim como uma certa angústia ou crença do personagem principal.

No fim tanto a crença anti-armamentista que individualizada não impediu Paul Keyser de sofrer a violência que sofreu nem a possibilidade de punitivismo armamentista trouxe ao arquiteto a paz, ou a segurança ou a solução, o que parece ser seu vetor é apenas a descrença na capacidade de um sistema melhor. O que parece lhe dar um pouco de paz talvez seja o fato de ter se posto como essa cunha da contradição que obriga o sistema a rever seus caminhos. Os únicos momentos do filme onde o personagem comenta sobre seus motivos, em diálogo com o filho, deixa mais questões e dúvidas no ar do que motivações. É quase como uma escolha niilista enquanto cabe a sociedade dispor das teorias ou críticas sobre os fatos.

Entendermos isso é importante para entendermos como acontecem certos processos e pautas conservadoras que nos parecem contraditórias como por exemplo ser cristão e querer ter uma arma em casa ou o discurso de legítima defesa que alguns pregam. Este desejo equivocado se embasa nessa construção cultural de décadas de bombardeamento da cultura pop que aponta isso como solução somado ao problema material de não termos uma política de estado eficiente para lidar com a segurança pública. Este mesmo desejo acaba por relativizar e facilitar a criação de sistemas de poder paralelos, à medida que, no momento inicial, as lideranças locais destes são vistas como vigilantes de bairro a cumprir o papel que o Estado não consegue dar conta.

Desmistificar o armamentismo individual exigirá um esforço complexo que passa primeiramente pela garantia de um sistema policial e judiciário não corrompido e que tenha como diretriz a proteção ao cidadão. Segundo, precisamos recuperar o interesse coletivo em escala comunitária (rua a rua e bairro a bairro) para a solução de problemas e construção de propostas como aumentar o acesso a direitos básicos e redução da segregação social.

Para além disso, precisaremos de um processo de ressignificação desta parte da cultura pop que traça como bem sucedido e símbolo de sucesso o homem armado. O que pode até ser trabalhoso mas não tão difícil visto que essa propaganda tem como pano de fundo um recorte tipo homem de meia idade, que aparentemente não é o desejo de ser dos jovens. Mesmo jovens que hoje buscam se entender por uma identidade conservadora podem se colocar em contradição diante deste padrão. Lembramos dos tempos em que propagandas de cigarros retratavam sucesso, vida atlética, liberdade, refinamento cultural. Hoje, ainda se fuma, mas já não são massivos e associados a estes conceitos a quantidade de fumantes. Quem fica preso a este eterno retorno do passado como saída acaba por gerar espantalhos até que se transforme em um.

Conceitos de vida mudam porque somos seres com habilidades sociais, coletivas e mais importante de tudo reflexivas. São estas habilidades que nos permite buscar os melhores meios de ampliar nossa qualidade de vida, nosso tempo individual na terra, nossas produções coletivas e por aí vai. Para tal é preciso estarmos constantemente colocando nossas contradições sociais na mesa para propor caminhos melhores, mais coletivos e mais humanos.



15 de maio de 2021

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VISTA ALEGRE esse pequeno pedaço de subúrbio

 Se antes falamos do Imperador e o conceito de lugar, porque não falar hoje do meu ou um dos meus Lugares ? 0 pequeno bairro de Vista Alegre.

Rogério Batalha, compositor, poeta e morador de Vista Alegre cita: nosso bairro é uma pequena Bahia, Jorge Amado realmente teria muito a contar sobre este lugar. Esse bairro que se avizinha a Cordovil, Irajá, Brás de Pina e vila da Penha é quase um condado pouco lembrado ou citado pelos cronistas da cidade. Em geral quando citamos Vista Alegre, é comum receber comentários e referências que vão desde um bairro de São Gonçalo até algum lugar da Barra.

Mas vamos ao que interessa, a primeira coisa que o Vista Alegrense aprende é que fronteiras são delimitações arbitrárias que em nada tem relação com o cotidiano. Todos sabem que o bairro Araújo, os conjuntos brancos, o Sacil são parte de Vista Alegre apesar de ser Irajá, assim como todos sabem que até o Largo do Bicão tá liberado ser Vista Alegue mesmo que seja Brás de Pina.

Em Vista alegre é assim, temos nosso Cristo que chorava na pedreira, nunca ouvi falar deste tipo de milagre no Corcovado. Mas Jesus não para aí! Houve tempos em que Jesus vivia a sua via crucis nas ruas de Vista Alegre, era julgado ali na São Rafael e sabia em romaria até a praça da Lona. O último Cristo que vimos crucificado era negro, perseguido pelo sinédrio e pelo racismo ressuscita para ensinar ao bairro a fé, o amor e o combate aos preconceitos. Antes da Lona, o lugar era só uma praça, no platô onde ela se fez, eu, ainda criança, aprendi a andar de bicicleta e depois no bar da frente comia um ovo colorido com meu pai e um picolé em formato de tubarão. E por falar em tubarão, tem um na São Félix que até ser carro conserta. Vista Alugue é um bairro bem servido de mecânicos, do tubarão ao Seu Emilson na Walter Seder, quer tem carro não fica parado.

Cresci num Vista Alegre engraçado, tinha seus ícones como a saudosa Coruja que vivia perambulando pelas ruas mandando todos nós tomarmos no C., tinha o seu Pintinho, tinha o profeta do shortinho e tinha o profeta do picolé. Nunca soube se o apelido de Coruja tinha relação direta com o beco da Coruja, uma rua temida por puro preconceito. A quem interessar, no beco fica o Coruja Bistrô, espaço cultural onde tem um fantástico acervo histórico do Bairro.

A água de Vista Alegre é peculiar e dizem que: quem mora em Vista Alegre e dela bebe não abandona. Vista Alegre tem vários tempos marcantes, do 401 ao atual pólo gastronômico, esse bairro sempre foi point da sociabilidade. Fora as imagens marcantes também, que ficam na cabeça, como a casa que tinha um Leão como animal de estimação ou a casa que tinha um carro de fórmula 1 estacionado.

Nosso bairro é deste tipo de lugar onde todos se conhecem, você vira a esquina e algum amigo do seu avô de cumprimenta, o dono da padaria é seu vizinho, os Jornaleiros são basicamente a mesma família. O BAZAR do NELSON, na resistência dos bazares de Bairro, o bar do mal encarado, o bar do cachorrão (point de Rock de domingo de uma geração inteira)ou o bar do Sid, famoso por sua sambiquira, em qualquer um desses o morador tradicional encontrará ao menos um parente frequentando.

O domingo é de lei, comer pastel na feira, subir para o campo e curtir um futebol dos veteranos do Papa C|Colombo, grandes boleiros num ótimo campo. Campo este que já recebeu do Papai Noel ao Pedrinho do Vasco (morador ilustre do bairro). E já que estamos Lembrando dos bons boleiros, porque não lembrarmos do querido Ronald do Fluminense, aquele onde o gol de Barriga do Carioca de 95 começou, e que além de ter alegrado todos os tricolores naquele ano, também alegra nosso carnaval com a bateria do quando ENCOSTA QUE ELE CRESCE.

Vista Alegre é assim, tem muita veio artística pulsante neste bairro, muitos causos a ser contados, muitas gerações de vida que se confraternizam e se confrontam. Quantos não aprenderam a tocar com o Bira? Quantos não se divertiram, dos bailes no Grêmio e no GRAG até os eventos da LONA e do CASARTI, das festas de rua ao pólo gastronômico, Vista Alegre segue dia a dia tentando fazer jus ao nome e ser no maio do Subúrbio um cantinho que ainda mantém a escala de vizinhança onde uma matriarca que mora no quarto andar de um dos prédios da água grande grita para alertar sua cria que é hora de subir porque o almoço está na mesa.

No fundo é impossível resumir este bairro, pois tem milhares de Vista Alegres diferentes no coração memória década um que faz parte disso tudo.

Que venham os muitos Vista Alegres! ! !


imagem extraída deste belíssimo vídeo; https://www.youtube.com/watch?v=lCKponV3A8M&t=53s